Detalhes da investigação


Título da tese
Design para inteligibilidade e fruição do património intangível
Itinerários poéticos na cidade de Lisboa

Domínio Científico
Design

Resumo
Esta investigação centra-se no design, cruzando outras áreas de estudo nomeadamente “nova museologia” e património intangível. Tem por objectivo demonstrar a relevância do design no processo de inteligibilidade e fruição do património imaterial.

O caso de estudo presente, concretizar-se-á na construção e comunicação de itinerários temáticos de poesia, que sobre Lisboa foi escrita e publicada no século XX. Sendo o design uma das disciplinas de acção museográfica, importa pois, sob a égide nas novas tendências museológicas, criar um sistema que permita revelar a poesia, o património e a poética da cidade, contribuindo deste modo para o reforço do espírito do lugar (ICOMOS)

A protecção e fruição do património intangível, dependem da sua adequada comunicação, a qual necessita contemplar todos os aspectos subtis que o constituem. Sendo por esta razão, área de intervenção do design devido à diversidade de ferramentas teóricas e práticas que suportam a sua prática projectual.


Objectivos
São objectivos desta investigação, encontrar respostas para formas de actuação do design em problemáticas actuais inerentes à nossa contemporaneidade. Neste sentido consideram-se objectivos gerais:

Conhecer a dimensão da importância do design, no processo de inteligibilidade e fruição dos diferentes tipos de património cultural na sociedade actual.

Investigar quais os possíveis campos de actuação do design, na revelação do património intangível, de acordo com as estratégias da nova museologia.


Descrição detalhada
Ao design, apresentam-se hoje novos desafios de acordo com as grandes questões culturais e preocupações sociais que são inerentes à nossa contemporaneidade. Actualmente todas as preocupações vão no sentido de encontrar resposta para as questões de protecção, equilíbrio e sustentabilidade do planeta, bem como do ser humano que o habita. O bem-estar social é uma dessas preocupações, como também o é, a vertente cultural e psicológica que o integram. Os designers não são alheios a estas questões, uma vez que o seu papel é extremamente importante enquanto catalisadores culturais, sendo precisamente na cultura, enquanto espaço de consciência, de conhecimento e de desenvolvimento conceptual, que se manifestam as maiores diferenciações.•

O património edificado é a face visível da identidade dos povos. Nele podemos reconhecer a sua história e o seu desenvolvimento político e económico. O património imaterial ou intangível é a expressão sensível, emocional e subtil dessa identidade. É a sua dimensão espiritual, construída e alicerçada de geração em geração no seio de um povo, de uma comunidade ou de grupos de indivíduos.

À semelhança do que anteriormente aconteceu em relação ao património edificado, móvel e geográfico, também o património intangível é hoje merecedor de atenção por parte da UNESCO, no que se refere à sua salvaguarda. Este facto, deriva de uma nova realidade social que a globalização veio introduzir, onde a existência de sociedades multiculturais é predominante e a tendência para a homogeneização e a indiferenciação tem tido um elevado crescimento. Causas estas, que se aliam à urgência de incutir uma consciência de aceitação do “outro” e da sua diversidade cultural, viabilizando uma sã convivência. Todas estas situações, contribuíram para a reflexão que se consubstanciou na necessidade de tomar medidas tendentes a despertar, a consciência para o imenso valor de que se reveste o património intangível e a importância da sua protecção.

É muito recente a reflexão e o cuidado que os países dedicam ao património intangível, mas a sua importância crescente revela-se a nível mundial, tendo sido objecto de aprovação consensual por parte de todos os estados membros da UNESCO. A convenção que define e estabelece linhas de orientação para a sua preservação e divulgação, a “Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Intangível”, foi adoptada na 32ª Conferência Geral da UNESCO, em Outubro de 2003 e entrou em vigor em Abril de 2006. Portugal ratificou-a em Março de 2008 sendo objecto de legislação no tocante ao regime jurídico de salvaguarda do património cultural imaterial em 15 de Junho de 2009 (DL 139). Encontra-se a decorrer a fase de identificação e inventariação dos diferentes tipos de património intangível.

A salvaguarda do património intangível, só será possível se os aspectos subtis que o totalizam forem atentamente contemplados, o que torna necessárias muitas e diferenciadas especificidades comunicacionais, tanto no que refere às mensagens a transmitir como aos canais mais adequados para o fazer. Por estas razões, este é manifestamente um problema no qual o designer tem que intervir, estabelecendo relações estruturais e funcionais que permitam a revelação e a fruição, da totalidade do património intangível que é necessário proteger.

A literatura é património cultural (UNESCO), e a poesia, enquanto manifestação da expressão oral e linguística, é desde tempos longínquos, uma forma muito particular de expressão dos portugueses. O património em estudo nesta investigação é a poesia que foi escrita sobre Lisboa, mais especificamente sobre o seu Centro Histórico. Muitos foram os poetas que lhe dedicaram um olhar encantado e a descreveram através da sua obra poética, transmitindo toda a atmosfera lisboeta e o que de mais intangível ela possui. Através de uma enorme produção de poesia, muitos dos grandes nomes da literatura portuguesa, foram-nos revelando ponto por ponto a cidade, onde cada rua, cada esquina, cada café pontuam a cidade de poesia, feita de memória, cor, cheiro e luz. Muitos foram, também, os portugueses de alma poética que se apossaram dessa poesia, a tornaram sua, integrando-a na sua identidade e nas suas memórias.

Num espaço geográfico delimitado ao Centro Histórico da Cidade, proceder-se-á ao reconhecimento do seu património cultural e de locais significativos, que propiciem a ancoragem da poesia anteriormente identificada e possibilitem o desenvolvimento de itinerários poéticos que coloquem em diálogo a autenticidade e a singularidade, a tradição e a contemporaneidade. Neste sentido, serão desenvolvidos estudos, que permitam uma adequação teórica e formal do design aplicado ao tema em investigação, em estreita consonância com os conceitos defendidos pela nova museologia, percebendo como e onde se deve intervir de modo a permitir uma comunicação adequada, que cumpra os objectivos necessários à salvaguarda e fruição do património intangível pela comunidade de cidadãos residentes, utentes e visitantes, ampliando desse modo o conhecimento cultural através de dinâmicas experienciais, pedagógicas e lúdicas que cruzem poesia, espaço urbano, património material e imaterial, criando um museu a céu aberto, que privilegie a aproximação à comunidade e o acesso ao conhecimento. Também neste sentido e, de modo a alargar as oportunidades de acesso, será considerado um projecto de museu virtual. Cumprindo-se desta forma o previsto no Decreto-Lei nº 139/2009. Capítulo I - artº 2º alínea e)
“acessibilidade através da informação e divulgação pública de forma sistematizada do património cultural imaterial, de modo a garantir o seu conhecimento e valorização, bem como a sensibilização para a sua existência através da sua adequada identificação, documentação, estudo e fruição”.