25.11.12

Dia Nacional da Cultura Científica


Ontem, dia 24 de Novembro, comemorou-se o Dia Nacional da Cultura Científica em homenagem ao homem de ciência Rómulo de Carvalho que, sob o pseudónimo de António Gedeão, nos brindou com  uma extensa obra poética.
Rómulo de Carvalho, nasceu em Lisboa no dia 24 de Novembro de 1906 na Rua do Arco do Limoeiro, hoje designada por Rua Augusto Rosa. 


Fotografia de Luísa Costa






















Os itinerários poéticos desenvolvidos, no âmbito da investigação que este blogue se propõe divulgar, não poderiam deixar de integrar uma obra deste autor, fazendo parte do roteiro da cidade vista do Tejo o poema que seguidamente se transcreve:

Adeus, Lisboa
Vou-me até à Outra Banda 
no barquinho da carreira. 
Faz que anda mas não anda; 
parece de brincadeira. 
Planta-se o homem no leme. 
Tudo ginga, range e treme. 
Bufa o vapor na caldeira. 
Um menino solta um grito; 
assustou-se com o apito 
do barquinho da carreira. 
Todo ancho, tremelica 
como um boneco de corda. 
Nem sei se vai ou se fica. 
Só se vê que tremelica 
e oscila de borda a borda. 

Chapas de sol, coruscantes 
como lâminas de espadas, 
fendem as águas rolantes 
esparrinhando flamejantes 
lantejoulas nacaradas. 
Sob o dourado chuveiro, 
o barquinho terno e mole, 
vai-se afastando, ronceiro, 
na peugada do Sol. 

A cada volta das pás 
moendo as águas vizinhas, 
nos remoinhos que faz, 
nos salpicos que me traz 
e me enchem de camarinhas, 
há fagulhas rutilantes, 
esquírolas de marcassites, 
polimentos de pirites, 
clivagens de diamantes, 

Numa hipnose coletiva, 
como um friso de embruxados, 
ao longe os olhos cravados 
em transe de expectativa, 
todos juntos, na amurada, 
numa sonolência de ópio, 
vemos, na tarde pasmada, 
Lisboa televisada 
num vasto cinemascópio. 
O sol e a água conspiram 
num conluio de beleza, 
de elixires que se evadiram 
de feiticeira represa. 
Fulva, no céu incendido, 
em compostura de pose, 
a cidade é colorido 
cenário de apoteose. 
Há lencinhos agitados 
nos olhos de todos nós, 
engulhos de namorados, 
embargamentos na voz. 
Nesta quermesse do ar, 
neste festival de tons, 
quem se atreve a acreditar 
que os homens não sejam bons? 

Adeus, adeus, ribeirinha 
cidade dos calafates, 
rosicler de água-marinha, 
pedra de muitos quilates. 
Iça as velas, marinheiro, 
com destino a Calecu. 
Oh que ventinho rasteiro! 
Que mar tão cheio e tão nu! 
Ó da gávea! Põe-te alerta! 
Tem tento nos areais. 
Cá vou eu à descoberta 
das índias Orientais. 
Não tenho medo de nada, 
receio de coisa nenhuma. 

A vida é leve e arrendada 
como esta réstea de espuma. 
Toda a gente é séria e é boa! 
Não existem homens maus! 
Adeus, Tejo! Adeus Lisboa! 
Adeus, Ribeira das Naus! 
Adeus! Adeus! Adeus! Adeus!

António Gedeão



Fotografia de Luísa Costa

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