22.2.10

A poesia, também se expõe [2]

Encontrando-me em S. Paulo, tornava-se imprescindível uma visita ao Museu da Língua Portuguesa. O objectivo desta visita, foi observar como se pode expor algo tão imaterial como a língua, sendo isto possível com recurso à mediação de diferentes suportes interactivos, multimédia e gráficos. É através destes suportes que nos é dado ver e percepcionar a língua portuguesa enquanto elemento comunicacional, mas também cultural.

De uma forma lúdica, é-nos ainda dada a possibilidade de identificar a origem de diversas palavras, a sua história e principais influências sofridas.

À margem da exposição permanente, estava patente uma mostra dedicada a Cora Coralina (Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretãs) com o título “Cora Coralina – Coração do Brasil”, exposição de homenagem à poetisa, na qual era recriado o seu universo pessoal, composto por cadernos manuscritos com poemas e anotações, cartas, publicações e fotografias. Todo este espólio enquadrado num cenário que aludia a janelas coloniais ou ao balaústre de uma ponte, imagens representativas do universo físico vivido pela autora.
Este projecto expositivo teve a curadoria de Júlia Peregrino e a cenografia de Daniela Thomas e Felipe Tassara.

Caixas de luz com fotografias do universo da poetisa

Caderno de poemas

Num outro espaço da cidade de S. Paulo, o “Centro Cultural Itaú”, a poesia continua a expor-se, desta vez sob a curadoria de Ademir Assunção e com o título “Ocupação Paulo Leminski: Vinte anos em outras esferas”. Também nesta exposição, dedicada ao poeta, romancista e compositor, o universo do poeta é recriado através das suas composições, dos seus manuscritos e objectos pessoais. Para a sua apresentação foram utilizados diversos suportes gráficos e multimédia.

Fotografia do poeta e entrada para exposição

Universos significativamente diversos, foram comunicados de forma diversa, fazendo com que, também aqui, a essência da poesia fosse intensificada, e as idiossincrasias dos seus autores facilmente apreensíveis.

15.2.10

A poesia, também se expõe [1]

Entre 20 Junho e 30 Setembro de 2009, quem passeou pelos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian pôde surpreender-se com este acontecimento. Durante cerca de 3 meses, foi dada a possibilidade a quem por ali passou, de se sentar ou deitar em enormes almofadas e usufruir de um ambiente muito especial, constituído pelo jardim envolto em muita poesia.

Obras, de autores de diferentes nacionalidades, clássicos, modernos e contemporâneos, foram expostas em toldos ao longo de um percurso com cerca de 80m.

Os jardins ficaram mais deslumbrantes, a essência da poesia intensificou-se, quem por ali passou, ficou enlevado.





Realização integrada no programa “Próximo Futuro”, da Fundação Calouste Gulbenkian

Estrutura dos toldos da Arquitecta Teresa Nunes da Ponte, Selecção dos poemas de António Pinto Ribeiro e Coordenação técnica de Jorge Lopes


Meio da Vida

Porque as manhãs são rápidas e o seu sol quebrado
Porque o meio-dia
Em seu despido fulgor rodeia a terra
A casa compõe uma por uma as suas sombras
A casa prepara a tarde
Frutos e canções se multiplicam
Nua e aguda
A doçura da vida

Sophia de Mello Breyner Andresen

4.2.10

Participação no 5º CIPED em Bauru

No âmbito desta investigação foi apresentada, ao “Congresso Internacional de Pesquisa em Design” realizado em Bauru - S. Paulo, nos dias 10, 11 e 12 de Outubro, uma comunicação com o título: “Design para a fruição poética da cidade”

Resumo
“Ao Design apresentam-se novos desafios sociais e culturais, nomeadamente no que ao património imaterial (poesia) diz respeito, a sua articulação com a cidade, o natural reforço do espírito do lugar que daí decorre, a função pedagógica e lúdica resultante desta articulação e a sua posterior conversão em reforço identitário.”

Nesta apresentação, optou-se por fazer uma demonstração da mais valia que constituiria conhecermos um lugar, através do olhar de um poeta. O espaço abordado foi circunscrito ao largo do Teatro Nacional de S. Carlos, Igreja dos Mártires e ruas adjacentes, que foram lugares de referência para Fernando Pessoa. Foi num prédio em frente ao teatro que o poeta nasceu e onde viveu com os pais, irmão mais novo e avó paterna até à morte do pai, sendo patente na sua obra a nostalgia e a memória feliz que conservou deste lugar, e que expressa do seguinte modo:

Todo o teatro é o meu quintal, a minha infância
Está em todos os lugares, e a bola vem a tocar música,
Uma música triste e vaga que passeia no meu quintal
Vestida de cão verde tornando-se jockey amarelo…
(Tão rápida gira a bola entre mim e os músicos…)
PESSOA, Fernando. Obra Poética I Volume. Lisboa: Círculo de Leitores, 1986 (p180)
Ou, na voz do seu heterónimo Álvaro de Campos:


No tempo em que festejavam o dia dos meus anos
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há muitos séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa como uma religião qualquer.


CAMPOS, Álvaro – Poesias de Álvaro de Campos. Lisboa: Edições Ática, 1980 (p284)

Também a Igreja dos Mártires onde Pessoa foi baptizado, nas imediações do teatro, é referencia na sua obra aludindo a ela desta forma:

Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.
PESSOA, Fernando. Obra Poética I Volume. Lisboa: Círculo de Leitores, 1986 (p211)

1.2.10

Design, cultura e património intangível

O design, entendido como um processo que relaciona diferentes áreas de conhecimento, tem como objectivo tornar viável, de modo eficaz, qualquer tipo de necessidade social ou cultural, recorrendo para tal, a técnicas e saberes específicos que possibilitam procedimentos projectuais adequados, enfrenta na sociedade actual novos desafios, directamente relacionados com as necessidades e tendências inerentes à nossa contemporaneidade. Nestas, a inteligibilidade e fruição do património cultural, assumem manifesta importância e devem propiciar a experiência física e sensorial, como forma de potenciar o conhecimento, quer tenham uma finalidade didáctica ou lúdica.

Também, a actual dinâmica da globalização, veio colocar novos reptos aos territórios e aos indivíduos, a hegemonização, por um lado, e a uniformização cultural por outro, exigem dinâmicas criativas, que coloquem em evidência as singularidades e especificidades culturais de cada local e de cada povo, de modo a obstar esta realidade.

Neste sentido a UNESCO, tem vindo a dar particular atenção ao património cultural imaterial e à sua salvaguarda, pois este constitui-se como principal elemento de diferenciação entre os povos, reside na sua cultura e memória sendo indissociável do património material que lhe dá expressão, seja este de ordem edificada, paisagística ou artística.

Deve por esta razão, ser identificado, valorizado e protegido de acordo com o designado na “Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial”.

Neste projecto de design, pretende-se contemplar todas estas dimensões, sejam elas ao nível das necessidades dos cidadãos, ou das recomendações da UNESCO.